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Notícia - Feliz ano novo? Sem justiça para Sônia Maria, sem futuro para o Brasil 27/01/2025
Feliz ano novo? Sem justiça para Sônia Maria, sem futuro para o Brasil

Difícil celebrar enquanto casos como o de Sônia Maria persistem, nos acorrentando a um passado marcado pelo que há de mais cruel no Brasil

É o último dia de 2024. Em um ano que deveria simbolizar avanços e celebrações, encerramos com um gosto amargo de impunidade, silêncio e indiferença. Um exemplo devastador disso é o caso de Sônia Maria de Jesus, que escancara uma ferida aberta na sociedade brasileira: a perpetuação de práticas análogas à escravidão em pleno século 21.
Enquanto a história de Sônia ganhou destaque pela crueldade de seus detalhes, o sistema de justiça que deveria garantir sua dignidade e reparação permanece paralisado. O Brasil, que se autoproclama o “país do futuro”, prova mais uma vez que não consegue sequer lidar com as atrocidades de seu presente – muito menos com as heranças do passado.

A escravidão nunca acabou

O caso de Sônia não é isolado. Segundo dados do Ministério do Trabalho, milhares de pessoas ainda vivem em condições análogas à escravidão no Brasil, especialmente em áreas rurais e no trabalho doméstico. O que diferencia a história de Sônia é a visibilidade que ela alcançou, em grande parte devido à conexão de seus algozes com o poder judiciário.
Mas o que acontece quando nem mesmo a exposição pública gera justiça? Encerramos o ano sem respostas concretas sobre o caso. Sua família, que passou anos procurando por Sônia, continua mergulhada na dor da espera. Sua mãe, Dona Maria José, morreu sem nunca reencontrar a filha. Essa tragédia é a personificação do que significa ser negro, pobre e vulnerável no Brasil: uma história de apagamento, de vozes silenciadas e de corpos descartados.

O país do silêncio cúmplice

O silêncio ao redor do caso de Sônia é revelador. Não houve comoção nacional. Não houve protestos massivos exigindo justiça. A mídia abordou o caso pontualmente, mas o debate não se sustentou. O poder público se acomodou, como se situações como essa fossem normais e inevitáveis.
O que isso nos diz sobre o Brasil? Que ainda somos um país profundamente colonial, onde a exploração de pessoas negras é aceita tacitamente, especialmente quando os exploradores ocupam posições de privilégio. A justiça não é cega – ela é seletiva, servindo aos interesses dos poderosos enquanto negligencia os direitos básicos dos vulneráveis.

O Brasil insiste em se proclamar um país promissor, mas como avançar enquanto as feridas do passado seguem abertas e os erros do presente permanecem impunes? A escravidão nunca foi efetivamente enfrentada. Ela apenas mudou de forma, adaptando-se ao capitalismo contemporâneo e às relações sociais marcadas pelo racismo estrutural. Casos como o de Sônia expõem que estamos presos em um ciclo de negligência e indiferença. Até que essas histórias sejam tratadas com a seriedade que merecem, não há como falarmos de um futuro. O Brasil será eternamente um país que olha para frente enquanto arrasta as correntes do passado.
Neste último dia de 2024, deveríamos refletir sobre a sociedade que estamos construindo. O silêncio e a inércia diante do sofrimento de Sônia não nos tornam apenas cúmplices, mas ativos participantes de um sistema que escolhe quem merece direitos e dignidade.

O futuro nunca chegará para um país que deixa casos como o de Sônia sem solução. Um país que normaliza a escravidão moderna é um país sem alma, sem memória e, sobretudo, sem perspectiva. Que 2025 comece com mobilização e respostas, ou continuaremos prisioneiros de uma história que nunca conseguimos superar.

Fonte: metropoles.com
 
 
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