Não sou da área do direito, mas qualquer leigo neste país sabe que no Brasil vivemos um paradoxo: excesso de leis, que não são aplicadas ou só são aplicadas com rigor quando os envolvidos são pessoas pertencentes às camadas mais pobres da população; falta de leis que regulem setores importantes da economia, entre outros; ou leis ultrapassadas, inadequadas aos problemas postos pela contemporaneidade.
Neste contexto, vale destacar os esforços de nossos legisladores quando procuram atender aos interesses de uma parcela da classe trabalhadora que nunca teve nenhum de seus direitos garantidos perante a lei. Refiro-me à nova lei dos trabalhadores domésticos, que vigora desde abril/2013, e que estende a esses profissionais os mesmos direitos garantidos aos trabalhadores contratados em regime de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ao todo, são 16 novidades. Algumas entraram em vigor de imediato, mas outras ainda dependem de regulamentação. Enquanto ela não sai, fique por dentro de algumas providências simples que você pode tomar.
Mas, apesar do destaque jurídico inicial de meu texto, não é este o tema que pretendo desenvolver. Hoje quero fazer uma homenagem às empregadas domésticas, também beneficiadas pela lei. Sei que há muita gente que tem se aproveitado dos benefícios da lei para obter vantagens, mas, do meu ponto de vista, o máximo que merecem é a sanção legal cabível e desprezo.
Por isso, minha homenagem é para aquelas empregadas domésticas que deixam suas casas, às vezes até filhos com terceiros, para prestarem seus serviços em nossas casas, seja com carteira assinada ou como diaristas. Pessoas que limpam nossas casas, cozinham, cuidam de nossas roupas, de nossos filhos, arrumam nossos armários e, quantas vezes, não são nossas confidentes. Estas pessoas são sérias, trabalhadeiras, responsáveis, competentes, dão-se ao respeito e ainda são sensíveis aos nossos problemas, como se já não tivessem os seus.
Enfim, acabam fazendo parte da família, por isso, também aprendemos a respeitá-las, a amá-las, a compreendê-las e ajudá-las no que for possível e a relação vai se estreitando, uma vez que onde há respeito mútuo, há um comprometimento. Elas aprendem a gostar de gente e a gente a gostar delas, porque a necessidade é mútua: nós temos o nosso trabalho e precisamos do trabalho delas e vive versa.
Uma questão: todas que exercem a profissão de doméstica gostariam de exercer outra? É provável. Mas, quantos de nós também não temos este sonho dentro de nossa profissão? Não porque seja um trabalho menor, mas porque almejamos um salário melhor. Isto é motivo de vergonha? Claro que não. Portanto, é mais que normal, que as empregadas domésticas procurem se qualificar para que futuramente possam ocupar outros cargos no mercado de trabalho, mas jamais se envergonharem pela profissão que exercem enquanto isso.
É um trabalho tão digno quanto outro qualquer. Penso que há no mercado de trabalho serviços mais difíceis, pesados, menos remunerados e socialmente menos reconhecidos que o trabalho de doméstica.
Por isso, você que exerce a profissão de doméstica, lembre-se sempre, não importa o que faça, faça bem feito, seja a melhor, orgulhe-se de você mesma e se um dia não estiver mais satisfeita com esta profissão, não fique parada, busque novos caminhos que a leve até onde deseja chegar. Mas não se esqueça, sempre pelo caminho do bem, com a cabeça erguida, altiva, com a postura e atitude de quem sabe do que é capaz, de quem é e do que quer.
Aproveito a oportunidade para fazer uma homenagem especial para a Ana, que não é só minha diarista, é meu anjo da guarda há mais de cinco anos. Ana: que seria de mim sem você minha amiga. Que Deus ilumine sua vida sempre para que continue sendo esta pessoa maravilhosa que você é. AMO VOCÊ!
(*) Wilse Arena da Costa – doutora em Educação: Psicologia da Educação – Professora Associada do Departamento de Educação/ICHS/CUR/UFMT (aposentada) e Escritora. Contato: wilsearena@hotmail.com
Fonte: A Tribuna
Sindoméstica Sorocaba - Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos de Jundiaí e Região
